Duque aposta suas fichas políticas na legalização de venezuelanos

A ambiciosa meta de legalizar quase dois milhões de venezuelanos que fugiram da crise ou da perseguição política para a Colômbia catapultou o presidente Iván Duque a uma posição de ponta no continente, incensado agora pela comunidade internacional. Conforme o estatuto de proteção temporária anunciado pelo governo colombiano, imigrantes que chegaram ao país antes de janeiro deste ano serão regularizados por dez anos.

Festejado com seu gesto pela ONU e pela União Europeia, o conservador Duque se mostra também alinhado com o novo governo dos EUA: o presidente Joe Biden apresentou um projeto que abre caminho para a legalização de 11 milhões de imigrantes sem documento que vivem no país, a maioria proveniente da América Latina.

Nos últimos anos, a Colômbia recebeu a terça parte dos quase seis milhões de refugiados venezuelanos. De acordo com o diretor de Migração, Juan Francisco Espinosa, cerca de um milhão estão em situação irregular e 400 mil são crianças em idade escolar. “As pessoas deixaram a Venezuela porque não têm como sobreviver.”

Eleito em 2018, sob a bênção do ex-presidente e mentor político Álvaro Uribe, Duque é impopular e crítico do acordo de paz selado entre seu antecessor, Juan Manuel Santos, e representantes das Farc. Sob seu governo, a implementação tornou-se vulnerável a frequentes objeções e revisões.

O presidente colombiano faz da oposição ferrenha ao regime venezuelano comandado por Nicolás Maduro, que qualifica com todas as letras como “narcoditadura”, uma das principais bandeiras de seu governo. A estratégia para regularizar os exilados, portanto, é engenhosa. Ao decidir criar um estatuto que protege e beneficia pelo menos 1,7 milhão de imigrantes oriundos do país vizinho, ele angaria a simpatia no exterior e se cacifa para a liderança no continente.

Além de demonstrar solidariedade aos refugiados, o presidente colombiano, que chegou a ser comparado à chanceler alemã Angela Merkel por seu gesto, cala os opositores, pelo menos por um tempo. E desvia o debate político acirrado pelo assassinato de lideranças sociais e de ex-guerrilheiros e também pelo atraso no programa de vacinação contra a Covid-19.

Como o presidente explicou no anúncio de seu projeto na Casa Nariño, cercado de representantes de organismos internacionais, a ideia é transformar o processo de legalização de venezuelanos “num marco na política da migração da Colômbia e também da América Latina”. Duque busca imprimir uma marca a seu governo — a do acolhimento — à altura do acordo de paz que deu a seu antecessor o Nobel da Paz.

 

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